sexta-feira, 25 de novembro de 2011

                                    Saber amar

Dizem que o verbo amar é inflexível. Não se conjuga. Existe por si só. São bons argumentos, mas creio que o verbo amar sempre exigirá complementos. Explicações. Razão além de toda a emoção. Emoção além de toda a razão. Amar exige alma. Exige corpo. Exige espírito. Amar é absolutamente o explicar do inexplicável. O atingir do inatingível. É o alcançar das estrelas sem exigência de movimento.


Já amei. Amo e amarei. E acho que sei o que é o amor. O que é o amar. Sinto que é abdicar. É transformar-se. Amar é poder ser um ser diferente daquele que você estava jurado a ser. Amar é olhar nos olhos de sua amada e enxergar o brilho do sol. É pular de um avião para alimentar toda a paixão. É achar possível o sumiço da gravidade quando se flutua na doçura que um beijo pode proporcionar. Amar é saber mostrar e ser mostrado. É sentir a flor nascer dentro de si mesmo. É jurar eternidade sem nem mesmo saber se algo neste mundo é eterno. É pensar no melhor quando só o pior insiste em acontecer. Amar é alegrar-se com a miserabilidade das coisas. É apreciar cada detalhe. Cada passo, movimento. É ouvir a respiração de quem se ama e sentir-se no furacão. No furacão das ondas. Das ondas cerebrais que a todo tempo te leva a pensar ‘’como amo!’’. Amar é contentar-se. Amar é sofrer. O sofrimento mais sofrível que se possa imaginar. O sofrimento psicológico. Existencial. E sofremos sem piedade. Fazemos coisas que ninguém em sã consciência faria. Fazemos coisas que não nos beneficiam. Mas por amor. Por amor mostramos nossa face. Sentimos dor quando vemos a felicidade daquela que amamos. Contudo é isso que queremos ver. Chegamos a picos de montanhas e nos jogamos. Pelo amor. E este é tão estranho... Atira balas de sofrimento, mas não mata. Nunca vi ninguém morrer de amor. Pois ao mesmo tempo em que ele tira vida, a recoloca. Ao mesmo tempo em que pisa, ele levanta. É incrível como isso possa acontecer. E o amar, o verdadeiro amar, jamais é passageiro. Jamais. É possível que se passem vinte dias, vinte meses ou vinte anos, e aquele que realmente amou, ainda tem, lá na caixa dos sentimentos, guardado tudo aquilo que se passou. E mesmo que não se queira abrir a caixa da memória do amor, ela se abre. A chave não é palpável. A chave é a luz. A luz de um singelo olhar. Mas cheio de história. Um olhar que pode durar alguns segundos, mas que pra você, parece enxergar séculos de história. E aqueles que não enxergam? A voz que se chega aos ouvidos, que falou tanta coisa bela, jamais é esquecida. E como que se necessitasse de um chamado para ser reascendido, o amor renasce. E para os que não enxergam e não ouvem? O toque do ser amado é como ferro quente gravado na pele. Cicatriza, mas se o ferro lhe fere novamente, você sabe a dor que ele proporcionou. Se o amor lhe toca novamente, você sabe o quanto lhe amou. Amar é um verbo de vertentes. De possibilidades. Aquele que realmente amou, terá suas próprias definições. Poderão ser várias, ou apenas uma. Mas saberá o que é amar. Assim como tenho meu autoconhecimento do que acho ser. Afinal, no mundo existe de tudo. Só não existe aquele que não ama.






E ser amado? O que é ser amado? Não sei, talvez nunca tenha sido...
                             Antes que o mundo acabe...

Quero. Verbo cuja flexão se dá sobre a palavra egoísmo. Porque querer pode ser considerado tão feio? Eu quero. Desejo. Aspiro a tudo. Viajar. Daqui, desse cubículo de onde escrevo, ao céu. Quero o céu só pra mim. Conhecer um muçulmano, um cristão fervoroso, um budista tão tranquilo que me dê sono. O novo. O “desabitual’’. Quero correr. Dar continuidade a passos que me levem a fonte da existência. Correr à velocidade da luz. Possível? Não. Mas eu quero! Desejo pular até tocar na ponta da estrela com o brilho mais obscurecido pela pólvora mental da humanidade. Fazê-la brilhar com a vontade que o vaga-lume pisca. Quero deitar sob o oceano. Pacífico, Atlântico, Índico ou Ártico. Fale que não é possível. Fale! Eu quero. Aspiro ao descanso sob as águas mais límpidas da humanidade. Águas que ainda não encontraram a pobreza do ser humano. Que vontade de voar. Abrir os braços e flutuar. Para bem longe e para bem perto. Apenas levitar e acreditar que não sou só mais um na multidão. Ter um papel. Ah... Como queria ser ator. Atuar na vida. Na minha vida com mais vontade; na vida das pessoas com mais amor. Amor. Ainda estamos atados a ele? O amor está morto? Estou morto? Estou vivo. Como Roma está. Como o amor está. Quero amar o mendigo que pede esmola à ‘’madame’’ com seu poodle cor-de-rosa. Quero amar o burguês que se prende a uma peça do vestuário que custa mais que um salário. Quero amar a todos e a tudo. Eu quero. Sou extremamente egoísta. Nesse mundo eu quero tudo. Desse mundo eu aspiro a tudo. Beijar a mais bela modelo e a mais feia das feias. Afinal onde está a beleza? Nos rostos de cera? Ou no fundo da alma? Fugir. Esquecer nossa galáxia e partir pra outra. Brincar... Como foi bom poder brincar um dia... Sim, quero brincar também. Jogar peteca com o vizinho da esquina ou pular corda com a turma da escola. Quero conhecer. Conhecer o papa e o líder do satanismo. O criativo e o sem criatividade. O monge e o padre. A mula e sua cabeça. As guerras e o fim destas. Quero aprender. Alemão, chinês, italiano, hebraico, russo e latim. Aprender a raiz quadrada do infinito e o cozimento do arroz. Quero poder vagar no meu destino. Voltar do que ele tem reservado a mim. Para quê? Para poder fazer tudo de novo. E mais um pouco. Pedalar quilômetros com a garota mais diferente de mim no mundo. Amar a garota mais complexa do universo. Apaixonar-se pela mais parecida comigo. Criar uma máquina do tempo que me leve aqui e ali. Lá e cá. No passado e no futuro. Nos próprios deslizes do tempo presente. É... Quero mudar o tempo. Dias de trinta horas. Acho possível. Não? Porém, eu quero. Salvar vidas. Que coisa mais bela. Poder salvar algo. Desde o pior bandido do sertão até a senhorinha da nova estação de trem da metrópole. Quero o bem a tudo e a todos. Devemos querer isso. Quero nadar, fotografar, deixar o cabelo crescer e cortar. Quero fechar meus olhos e ter a certeza que minha vida valeu à pena. Que todas as minhas vontades foram, se não realizadas, ao menos projetadas e tentadas. Quero poder descansar sabendo que vivi profundamente. Mas antes de acabar esse texto, quero fazer muito mais coisa. Afinal o mundo acaba. O meu mundo acaba. Vamos fazer a revolução da vida. A beleza do querer e poder ou não poder. Afinal, um dia tudo acaba. O que você prefere? Chegar ao céu ou ao inferno afirmando que ‘’Sim, já sei o que é vida.’’ Ou ‘’ Me mande de volta.’’? Querer. Nunca deixemos de querer.
                                                 Uma flor amarela

Que vida é essa em que sou esquecido e esqueço a todos? Que amor é esse que destrói e corrói cada momento feliz que ainda tenho gravado na memória? Não poderia reclamar de nada. De nenhuma gota de suor que desce suavemente em meu rosto. De nenhuma lágrima que queima minha pele como se fosse fogo. Não poderia reclamar dos alimentos que se estendem sob a mesa da cozinha todos os dias. Dos olhos que me permitem ver amizade e paixão sob todas as cores. Não poderia reclamar da própria vida diante de tantas graças que me foram dadas. De tanto sofrimento físico que me foi aliviado. Mas reclamo. Insulto os superiores dos céus como se fossem os grandes culpados por essa tristeza, de gosto fúnebre, que me destrói a cada dia. Adio os sorrisos verdadeiros que poderiam embelezar minha face. Não há explicação para o momento. Não há mais forças para apresentar-se bem. Sinto que tudo explodiu. Que as raízes que fixavam meus verdadeiros sentimentos foram decepadas. O dia amanhece como o de ontem. Termina como o de amanhã. Como pode parar? Quando é que vai realmente parar? Sinto que se aproxima o dia. Mas há tanto tempo tenho essa sensação. Há tanto que sinto que vai ser diferente. Que tudo realmente irá mudar. Não muda. Não fica diferente. Existirá pressão nos atos e nos olhares. Um vácuo interno do meu cérebro. Cada pupila que me é dirigida eu suplico. Aspiro um olhar diferente ao menos uma vez. Mas quando isso acontece? Esse é meu problema. Estar sozinho na colmeia. Esta que dizem que depende de mim. Mas que me parece não me trazer nenhuma relação de dependência. Não sinto mais o prazer de estar na terra com deveres e alegrias. O desprazer é o que me prende. Talvez venha sendo originado desde quando eu entendi o que realmente significava ser feliz. Entendi mesmo? Minha visão de ser feliz é a que devemos enxergar? Não sei... Realmente não sei... Talvez isso venha acontecendo por despreparo de minha mente. Talvez não saiba o que é perder. Não ter. Não ser. Talvez deva deixar os talvez para trás. Quem disse que consigo? Tão difícil tomar a iniciativa. O pontapé. Tudo vai indo tão mal. Tudo vem surgindo com tanto rancor. É estranho acreditar que pode mudar quando se sente assim. Egoísmo supremo da minha parte é estar aqui. Diante de uma máquina, que alimentaria crianças tristes por não comerem, reclamando do ar que respiro. Mas eu sinto que esse é o problema. Hoje tudo é relacionado ao dinheiro. Ao amor material a que se dá às coisas. Não sinto esse amor. Meu sentimento é verdadeiro. Não deixo para trás o que deveria ser deixado. Por que tudo aqui nessa bolha sentimental em que vivo, é extremamente extremado. Sei que há pleonasmo nisto. Mas há pleonasmo no que sinto. Por que rejeitá-lo? Sei como ele iria sentir-se triste com a rejeição que o homem infelizmente insiste em praticar. Teria dó de maltratar o pleonasmo.

Que vontade doce que tenho de vagar. Levitar sob o que julgo ser meu lugar de origem. Deitar ao lado da flor mais amarela desse planeta. Da minha flor. Das pétalas que há tempos eu dedico tempo em regar. Que parece que não cresce no palpável, porém tem metros no inatingível. No inteligível. Respirar o aroma perfumado exalado de minha flor. Da minha flor amarela da vida. A flor que na sociedade enxergo negra. Mas que dentro do meu pensar e sentir possui o amarelo mais gritante que os megapixels conseguem alcançar. A flor que deveria exalar vida, mas que há tempos exala apenas pó.
                                              Por amor


Engraçado. Tão doce. Como algo que representa o fim de uma vida de gosto tão amargo, pode ter esse sabor?! Deve ser dádiva de Deus. Talvez ironia. Penso ter sido o escolhido do sofrimento. E que melhor forma de ser agradecido pelo que eu sofri do que com doçura ao fim da vida?
Tenho muitos motivos para a infinidade. Nunca passei fome, nunca perdi o movimento de pernas e braços. Família típica de classe média, com todas as regras que a sociedade impõe eu também tive. Entretanto, essas são as razões que levam outras pessoas do fim ao início do edifício. Tenho meus próprios conceitos. A minha concepção é diferente. Nascer sem ter  nascido. Crescer sem ter crescido. Viver para algum dia ter morrido. Isso me expande a tristeza e a infelicidade.
Desde sempre desejei ser importante. Servir de base para alguém que necessitasse. Busquei todas as minhas aspirações. Mas aqui, sob esta singela poltrona, ouvindo um jazz da época de meu avô, percebo que o mundo parece girar pelo avesso. Se é que existem giros pelo avesso. A minha tara de ser valioso, parece nunca ter sido satisfeita. Conheci centenas de pessoas. Não exagero ao dizer milhares. Entretanto, tenho a impressão de nunca ter sido conhecido. De ter uma face lisa e descolorida. Viajei de norte a sul. Só que, estranhamente, quando estava a norte, era sul. Quando estava a sul, eu era norte. Passei pelo leste sendo oeste. Pelo oeste sendo leste.
É perturbador olhar os anos que me deixaram e refletir. As memórias queimam. Achamo-nos inteligentes por marcar cavalos a ferro quente e definir a vida destes. Mas a natureza não deixa barato. Cada memória guardada é uma marca firmada. São chamas invisíveis que nunca se apagam. Assim como o amor. Engana-se caso esteja pensando que foi por amor minha desistência do circuito. Mas já que falei do fogo. ‘’Que seja eterno enquanto dure, posto que é chama.’’ Oh brasa. Rasga. Aniquila. Dilacera. Mas suaviza. Constrange. Modifica. Irracionaliza. Mas engrandece. Apaixonei-me por muitas mulheres. Amei apenas uma. Custo dizer não ter sido minha mãe. Não há porque mentir em um momento como esse. Amei apenas a garota que passava. Que passava alegre e esbelta em cada noite bem dormida que tive durante a vida. Acho que o amor mingua os neurônios. Propicia um olhar melancólico sobre as coisas. O não correspondido, é claro. Afirmo e reafirmo. Não é por amor.
Estou me sentindo mole e sonolento agora. Cada vez que respiro, sinto mandar mais ar para fora do que para dentro. Era para ser um momento triste esse. Mas estou feliz. É de livre e espontânea vontade. Não é por amor. Fique bem claro. O sol está se pondo. Minha luz se acabando. Saiba que eu tentei permanecer. Entretanto, a última gota d’água secou. A última pétala voou. O último pássaro cantou. Mas não foi por amor... Lembre-se disso. Não foi por amor...