quarta-feira, 23 de maio de 2012

                                       Soneto de maio


Pesar dos olhos deslumbrantes,
causadores da incômoda inquietação.
A foice negra nos infantes,
dona do clamor ingrato da ambição.


Júbilo dos deuses ou de Maomé,
destruidora dos laços fixos da nação.
Atesta à guerra a marcha-ré
de tropas desistentes do canhão.


Mortes que aconchegam a loucura,
trazem à tona mais um dos artifícios
da fétida e tristonha sociedade impura.


Maio traz notas de torpor.
Só mesmo a mulher para, nas batalhas,
silenciar a pólvora com o som de um amor.

domingo, 13 de maio de 2012

                                                  Percalços de maratona


Às vezes gosto de funcionar como narrador onisciente. Até porque, quem é que não gosta de ser conhecedor de todas as partes, todos os pensamentos? Pois bem. Peço licença a duas pessoas que conheci para escrever a história de ambas. Na verdade, a pequena história ocorrida entre eles.


Sabemos que o ambiente escolar é propenso às paixões. E com meus queridos personagens não foi diferente. Miguel era o típico garoto descolado. Conhecido por todos, muito devido a sua imensa forma carismática de dialogar. E, geralmente, é esse estereótipo masculino que sempre está em busca de um grande amor. E Eliza estava lá. Simplesmente para ser desvendada. Garota bonita, simpática e com um certo ar de mistério. Obviamente, um estereótipo feminino que desperta interesses. E, obviamente, foi isso que aconteceu. O interesse de Miguel foi instantâneo. Sorrateiramente, começou seus cortejos. Cortejar uma garota é sempre tarefa ingrata. Qualquer erro pode ser fatal. E logo ele, nosso personagem àvido pelo amor, cometeu suas falhas. Entretanto, isso é desprezível à nossa história. Até porque o coração feminino nos permite que simples flores limpem qualquer vestígio da voluptuosa forma grosseira dos homens. Assim se sucedeu. Aliás, as flores são o elemento essencial desse texto. Creio que tenha sido o tempero que uniu Miguel e Eliza. Pois bem. Saíram certo dia, depois de certa insistência de Miguel. Aquela típica insistência enjoativa, porém infalível. E como todo galanteador que se preze, tudo saiu dentro do planejamento. E para coroar a noite, flores pela manhã. Veja, isso é incomum nos dias de hoje em uma sociedade tão presa ao desprendimento amoroso. Meus parabéns meu garoto! O coração da donzela foi cativado. Abro um espaço para descrevê-la psicologicamente agora. Tenho esse poder. Afinal, isso é uma simples história. E eu, seu dono. Eliza era uma menina irracional. Ela pensa. Como todo ser humano. Mas meu leitor, não é um pensar com razão. Já ouviu falar de Bento Santiago, vulgo Bentinho? Pois bem... o tão apaixonado e perturbado adorador de Capitu, me lembra certos trejeitos de Eliza. Emoção em fervor. Atitudes em que as batucadas do coração são tão altas, que ensurdecem e enlouquecem o trabalho cerebral. Aquele que lhe faz pensar em possibilidades do futuro; o faz ver prós e contras. Mas Eliza... Ah, pobre menina, não é uma simples peça de ossos e cérebro. É além disso. É alma e coração. E pense. Você, garota-mulher que lê. Me diga. Flores são o ápice do encantamento, não? Ainda mais quando tratamos de pessoas imediatistas, impulsivas. E, confesso, carentes. Ela era a mais singela forma da carência feminina. Foi fisgada, óbvio. Quem vê ''fisgada'', ''galanteador'', ''infalível'', caracteriza Miguel como um canalha. Retire tais pensamentos. Era puro no que sentia. Isso não há como se negar. Sem mais delongas, as flores pela manhã abriram espaço na cartilha que ambos desejavam: um amor meteórico. E, como um astro que corre à velocidade da luz, iniciaram um namoro. Precoce. Previsivelmente, com fim premeditado. Mas não pulemos etapas. Miguel e Eliza enamoraram-se. Desde daquela típica apresentação aos pais até a ardente paixão solitária entre ambos. Assim passaram-se duas semanas. Talvez uma... não me recordo ao certo. Afinal, qualquer período abaixo de um mês, faz parecer imediato demais. Quebrando todo o fluxo da história feliz que viviam, Eliza passa na faculdade. Aquele tão sonhado desejo juvenil. Choro de Miguel. Melancolia. E a promessa. O namoro continuaria sem diferenças. Aquela velha : ''para o amor não há distância'', era o que predominava em suas vidas. Assim se passou a primeira semana. Celulares em punho à todo instante. Juras de amor viajantes. Mas, meu caro ou minha cara. Confesse-me. Você, em sã consciência, tem suporte psicológico para namorar alguém que acaba de realizar um desejo como o de passar numa faculdade? E, veja, à centenas de quilômetros de distância? Pois é... Até mesmo o amor tem suas fraquezas. Eliza contentou-se em ver seu amado em um feriado qualquer. Mas Miguel... Ah... tão apaixonado. Tão fraco. Lhe era difícil. Passou-se mais algumas semanas e eis que surge a oportunidade de Miguel visitar sua princesa. 


Bem... peço licença dessa vez para elongar algumas palavras sobre o amor e o orgulho masculino. O amor, este que é o pó da vida. O verdadeiro ar humano, sem hipocrisia, não suporta a tudo e a todos. Eu que já amei algumas, sei que vários fatores influenciam nosso pensar. Aquele ardor do amor... ah... não é páreo para os vestígios da desconfiança. Rebusco Bentinho novamente. O nosso Dom Casmurro, embora amasse tão ardorosamente, não resistiu às peripécias da desconfiança. Era Capitu adúltera? Dotada de um amor falso perante a ele?  Um marco literário prova que falo a verdade. Bento e Capitolina desfizeram seus laços. Miguel e Eliza, tragicamente, também os desfizeram. Quanto ao orgulho que citei, raciocinamos. Finja ser Miguel. Você é um mero estudante de colegial. Uma cria embaixo das asas da mãe. Agora você é Eliza. Uma moça recalcada em beleza e simpatia. Em um universo novo. Acadêmico. Jovial. Independente. Veja, é simples sentir-se fraco perante à situação. 


Assim Miguel sentiu-se. Perturbado pela dúvida emocional, pela análise fatigada dos fatos que lhe eram desfavoráveis. Como disse anteriormente, meu personagem a visitou. Viu de perto o novo mundo que se passava pela cabeça de sua amada. Sentiu-se a parte daquilo tudo. Evidenciado pelas frases de impacto proferidas por Eliza, Miguel tomou a decisão de deixá-la. Vivenciou o pouco de romantismo que lhe restava e se foi. Sem dizer palavra alguma, a deixou. Passado alguns dias, deixou um bilhete à caixa postal de Eliza: '' A velocidade do encantamento obscurece a verdade dos fatos. Sinto muito. Por amá-la demais, devo deixá-la.'' Eliza, desentendedora da situação chorou. Entristeceu-se. Odiou seu amor como nunca odiara ninguém. Desejou vingança, morte, ruindades. No outro dia já não desejava mais nada. Apenas pular a areia movediça que parecia insistir em sugá-la. A areia do azar no amor. Esse que eu, você, Eliza e Miguel, certamente teve ou terá em alguma fase da vida. 
Essa é a história de Elisa e Miguel. A história de dois apaixonados que nos mostram que tudo tem seu tempo. Na maratona do coração, correr demais pode exaustar com precocidade. Caminhar vagarosamente, pode fazer com que percamos o primeiro lugar. Alguém poderia palpitar: dessa maratona prefiro nem participar. Pobre alma. Mal sabe ela que o prêmio dessa corrida é o que nutre a vontade de viver. Um prêmio chamado ''Felicidade''. Este mesmo prêmio que nem Miguel e nem Eliza ainda obtiveram. 

terça-feira, 8 de maio de 2012

                                                 Direito por lei
     
    
       Há algumas horas vi um vídeo interessante. Consistia em uma entrevista com o renomado filósofo brasileiro Luiz Felipe Pondé. Certamente, poucos concretizarão o adjetivo que usei para descrevê-lo, afinal, vivemos em uma sociedade intelectualmente precária. Mas foi justamente nesse papo informal de Pondé, que uma de suas maliciosas e inteligentes frases me despertou a vontade de raciocinar e escrever uma opinião à respeito. O filósofo afirmou termos ''mania de querer agradar a todos. Possuímos uma afetividade infantil condizente apenas com tal faixa etária...'' . Realmente. Quando paro pra observar o cotidiano em que me encontro, percebo múltiplas facetações representando algo não verdadeiro. Alguns diriam falsidade. Prefiro não usar o termo, ou talvez, apenas omiti-lo. Vendo o desenrolar mental da sociedade, percebo há muito que não somos mais donos de nossos narizes. Falsidade consiste em dissimular. E não mais dissimulamos. Agimos como falsos naturais. Somos falsos naturais. E tudo isso por conta do que disse Pondé : queremos agradar a tudo e a todos.     
       Quando somos educados em nossa infância, certamente somos para agregar valores sociais. Dentre esses valores, formadores da criança, encontramos busca pelo sucesso, apreço pelo belo, solidariedade com o próximo e respeito às regras pré-concebidas. Já nesses valores torna-se perceptível o quanto nossa criação influi no nosso desejo de agrado permanente. Quando nos eram exigidas notas altas, que simbolizam o sucesso infantil na sociedade, simplesmente nos eram exigidas. Perdoe a repetição de palavras. Mas foi isso o que todos ouviram quando tiraram notas baixas: exijo, exijo, exijo... E, para tirar um sorriso da cara do pai com a vinda do boletim no próximo bimestre, nos esforçávamos ao máximo. Veja, não nos vangloriávamos de nosso conhecimento, mas sim do dever cumprido perante o desejo dos pais. E isso advém da criação mal-formulada. Agregar o valor do sucesso com o regozijo de sentir-se bem apenas quando outro nos parabenizava, foi desastroso para a formação psíquica de indivíduo social. Quando perguntávamos como estávamos vestidos, se o perfume era de cheiro agradável, ou se o cabelo remetia a um penteado condizente com a imagem, simplesmente transferíamos nossas opiniões para o destinatário. E, erroneamente, recebíamos veementes opiniões a respeito de um simples vestido ou uma singela camisa. Veja como isso é inconcebível para uma formação ideal. Nos foi ensinado que devíamos ajudar o próximo lhe tirando um sorriso da face. Não! Isso é reprovável. Devemos tirar um sorriso de nosso rosto. Nós devemos nos sentir felizes por ajudar. Ficar na dependência da opinião alheia é um ato falho. Pondé afirmou que é aceitável para uma criança o fato de insegurança nos atos. Discordo. É de criança que recebemos o jeito que pensaremos no futuro. Se julgar admissível um pensar inseguro, logo na infância, certamente revelará um adulto dependente. Dependente do alheio. Não creio que devamos incitar nossas crianças a serem independentes em todos os atos. Afinal, somos taxados de exemplos a elas. Mas acho que liberdade de raciocínio e opinião é meio caminho andado. Certas atitudes talvez implantem na mentalidade da pessoa que, independentemente do que irão dizer, quem tem voz para gritar primeiro é ela mesma. Você mesmo deve se avaliar. Apenas você pode formular um raciocínio pessoal. E percebo que a sociedade carece de pensadores hoje justamente por conta de nossa criação. À medida que vamos sendo coordenados a esboçar nossos próprios sorrisos na face de outrem, despedimos do cérebro a importância de nossos próprios dentes. Essa mania de agradar, sinceramente, não me agrada. E justamente por isso que admiro tanto os excêntricos. Desde a era hippie, fervorosos anarquistas, ao cantor de rap sem papas na língua. Chega dessa ignorância medíocre de taxar o que é certo e errado, feio e belo. Somos seres pensantes. E, graças as forças superiores, seres que pensam de maneira diferente. Acatemos nossos próprios valores e nossas próprias ideias. Contanto que não fira a liberdade do próximo, que se dane se eu quero sair por aí vestido com uma blusa com estampas de mangas e uma saia escocesa dançando algo senegalês. O livre-arbítrio deve ser estimulado. De crianças a idosos : liberdade de expressão e pensamento, é um direito que nos cabe.