sexta-feira, 25 de novembro de 2011

                             Antes que o mundo acabe...

Quero. Verbo cuja flexão se dá sobre a palavra egoísmo. Porque querer pode ser considerado tão feio? Eu quero. Desejo. Aspiro a tudo. Viajar. Daqui, desse cubículo de onde escrevo, ao céu. Quero o céu só pra mim. Conhecer um muçulmano, um cristão fervoroso, um budista tão tranquilo que me dê sono. O novo. O “desabitual’’. Quero correr. Dar continuidade a passos que me levem a fonte da existência. Correr à velocidade da luz. Possível? Não. Mas eu quero! Desejo pular até tocar na ponta da estrela com o brilho mais obscurecido pela pólvora mental da humanidade. Fazê-la brilhar com a vontade que o vaga-lume pisca. Quero deitar sob o oceano. Pacífico, Atlântico, Índico ou Ártico. Fale que não é possível. Fale! Eu quero. Aspiro ao descanso sob as águas mais límpidas da humanidade. Águas que ainda não encontraram a pobreza do ser humano. Que vontade de voar. Abrir os braços e flutuar. Para bem longe e para bem perto. Apenas levitar e acreditar que não sou só mais um na multidão. Ter um papel. Ah... Como queria ser ator. Atuar na vida. Na minha vida com mais vontade; na vida das pessoas com mais amor. Amor. Ainda estamos atados a ele? O amor está morto? Estou morto? Estou vivo. Como Roma está. Como o amor está. Quero amar o mendigo que pede esmola à ‘’madame’’ com seu poodle cor-de-rosa. Quero amar o burguês que se prende a uma peça do vestuário que custa mais que um salário. Quero amar a todos e a tudo. Eu quero. Sou extremamente egoísta. Nesse mundo eu quero tudo. Desse mundo eu aspiro a tudo. Beijar a mais bela modelo e a mais feia das feias. Afinal onde está a beleza? Nos rostos de cera? Ou no fundo da alma? Fugir. Esquecer nossa galáxia e partir pra outra. Brincar... Como foi bom poder brincar um dia... Sim, quero brincar também. Jogar peteca com o vizinho da esquina ou pular corda com a turma da escola. Quero conhecer. Conhecer o papa e o líder do satanismo. O criativo e o sem criatividade. O monge e o padre. A mula e sua cabeça. As guerras e o fim destas. Quero aprender. Alemão, chinês, italiano, hebraico, russo e latim. Aprender a raiz quadrada do infinito e o cozimento do arroz. Quero poder vagar no meu destino. Voltar do que ele tem reservado a mim. Para quê? Para poder fazer tudo de novo. E mais um pouco. Pedalar quilômetros com a garota mais diferente de mim no mundo. Amar a garota mais complexa do universo. Apaixonar-se pela mais parecida comigo. Criar uma máquina do tempo que me leve aqui e ali. Lá e cá. No passado e no futuro. Nos próprios deslizes do tempo presente. É... Quero mudar o tempo. Dias de trinta horas. Acho possível. Não? Porém, eu quero. Salvar vidas. Que coisa mais bela. Poder salvar algo. Desde o pior bandido do sertão até a senhorinha da nova estação de trem da metrópole. Quero o bem a tudo e a todos. Devemos querer isso. Quero nadar, fotografar, deixar o cabelo crescer e cortar. Quero fechar meus olhos e ter a certeza que minha vida valeu à pena. Que todas as minhas vontades foram, se não realizadas, ao menos projetadas e tentadas. Quero poder descansar sabendo que vivi profundamente. Mas antes de acabar esse texto, quero fazer muito mais coisa. Afinal o mundo acaba. O meu mundo acaba. Vamos fazer a revolução da vida. A beleza do querer e poder ou não poder. Afinal, um dia tudo acaba. O que você prefere? Chegar ao céu ou ao inferno afirmando que ‘’Sim, já sei o que é vida.’’ Ou ‘’ Me mande de volta.’’? Querer. Nunca deixemos de querer.

3 comentários:

  1. Incrível como cada vez que leio esse texto gosto mais dele...

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  2. E ainda é o meu texto favorito dos que você escreveu. rs

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  3. Digno de um bosta. Porém, interessante, cultural e integro na sua maneira, eu quero, sim, eu quero que você coma merda, obrigado

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