domingo, 13 de maio de 2012

                                                  Percalços de maratona


Às vezes gosto de funcionar como narrador onisciente. Até porque, quem é que não gosta de ser conhecedor de todas as partes, todos os pensamentos? Pois bem. Peço licença a duas pessoas que conheci para escrever a história de ambas. Na verdade, a pequena história ocorrida entre eles.


Sabemos que o ambiente escolar é propenso às paixões. E com meus queridos personagens não foi diferente. Miguel era o típico garoto descolado. Conhecido por todos, muito devido a sua imensa forma carismática de dialogar. E, geralmente, é esse estereótipo masculino que sempre está em busca de um grande amor. E Eliza estava lá. Simplesmente para ser desvendada. Garota bonita, simpática e com um certo ar de mistério. Obviamente, um estereótipo feminino que desperta interesses. E, obviamente, foi isso que aconteceu. O interesse de Miguel foi instantâneo. Sorrateiramente, começou seus cortejos. Cortejar uma garota é sempre tarefa ingrata. Qualquer erro pode ser fatal. E logo ele, nosso personagem àvido pelo amor, cometeu suas falhas. Entretanto, isso é desprezível à nossa história. Até porque o coração feminino nos permite que simples flores limpem qualquer vestígio da voluptuosa forma grosseira dos homens. Assim se sucedeu. Aliás, as flores são o elemento essencial desse texto. Creio que tenha sido o tempero que uniu Miguel e Eliza. Pois bem. Saíram certo dia, depois de certa insistência de Miguel. Aquela típica insistência enjoativa, porém infalível. E como todo galanteador que se preze, tudo saiu dentro do planejamento. E para coroar a noite, flores pela manhã. Veja, isso é incomum nos dias de hoje em uma sociedade tão presa ao desprendimento amoroso. Meus parabéns meu garoto! O coração da donzela foi cativado. Abro um espaço para descrevê-la psicologicamente agora. Tenho esse poder. Afinal, isso é uma simples história. E eu, seu dono. Eliza era uma menina irracional. Ela pensa. Como todo ser humano. Mas meu leitor, não é um pensar com razão. Já ouviu falar de Bento Santiago, vulgo Bentinho? Pois bem... o tão apaixonado e perturbado adorador de Capitu, me lembra certos trejeitos de Eliza. Emoção em fervor. Atitudes em que as batucadas do coração são tão altas, que ensurdecem e enlouquecem o trabalho cerebral. Aquele que lhe faz pensar em possibilidades do futuro; o faz ver prós e contras. Mas Eliza... Ah, pobre menina, não é uma simples peça de ossos e cérebro. É além disso. É alma e coração. E pense. Você, garota-mulher que lê. Me diga. Flores são o ápice do encantamento, não? Ainda mais quando tratamos de pessoas imediatistas, impulsivas. E, confesso, carentes. Ela era a mais singela forma da carência feminina. Foi fisgada, óbvio. Quem vê ''fisgada'', ''galanteador'', ''infalível'', caracteriza Miguel como um canalha. Retire tais pensamentos. Era puro no que sentia. Isso não há como se negar. Sem mais delongas, as flores pela manhã abriram espaço na cartilha que ambos desejavam: um amor meteórico. E, como um astro que corre à velocidade da luz, iniciaram um namoro. Precoce. Previsivelmente, com fim premeditado. Mas não pulemos etapas. Miguel e Eliza enamoraram-se. Desde daquela típica apresentação aos pais até a ardente paixão solitária entre ambos. Assim passaram-se duas semanas. Talvez uma... não me recordo ao certo. Afinal, qualquer período abaixo de um mês, faz parecer imediato demais. Quebrando todo o fluxo da história feliz que viviam, Eliza passa na faculdade. Aquele tão sonhado desejo juvenil. Choro de Miguel. Melancolia. E a promessa. O namoro continuaria sem diferenças. Aquela velha : ''para o amor não há distância'', era o que predominava em suas vidas. Assim se passou a primeira semana. Celulares em punho à todo instante. Juras de amor viajantes. Mas, meu caro ou minha cara. Confesse-me. Você, em sã consciência, tem suporte psicológico para namorar alguém que acaba de realizar um desejo como o de passar numa faculdade? E, veja, à centenas de quilômetros de distância? Pois é... Até mesmo o amor tem suas fraquezas. Eliza contentou-se em ver seu amado em um feriado qualquer. Mas Miguel... Ah... tão apaixonado. Tão fraco. Lhe era difícil. Passou-se mais algumas semanas e eis que surge a oportunidade de Miguel visitar sua princesa. 


Bem... peço licença dessa vez para elongar algumas palavras sobre o amor e o orgulho masculino. O amor, este que é o pó da vida. O verdadeiro ar humano, sem hipocrisia, não suporta a tudo e a todos. Eu que já amei algumas, sei que vários fatores influenciam nosso pensar. Aquele ardor do amor... ah... não é páreo para os vestígios da desconfiança. Rebusco Bentinho novamente. O nosso Dom Casmurro, embora amasse tão ardorosamente, não resistiu às peripécias da desconfiança. Era Capitu adúltera? Dotada de um amor falso perante a ele?  Um marco literário prova que falo a verdade. Bento e Capitolina desfizeram seus laços. Miguel e Eliza, tragicamente, também os desfizeram. Quanto ao orgulho que citei, raciocinamos. Finja ser Miguel. Você é um mero estudante de colegial. Uma cria embaixo das asas da mãe. Agora você é Eliza. Uma moça recalcada em beleza e simpatia. Em um universo novo. Acadêmico. Jovial. Independente. Veja, é simples sentir-se fraco perante à situação. 


Assim Miguel sentiu-se. Perturbado pela dúvida emocional, pela análise fatigada dos fatos que lhe eram desfavoráveis. Como disse anteriormente, meu personagem a visitou. Viu de perto o novo mundo que se passava pela cabeça de sua amada. Sentiu-se a parte daquilo tudo. Evidenciado pelas frases de impacto proferidas por Eliza, Miguel tomou a decisão de deixá-la. Vivenciou o pouco de romantismo que lhe restava e se foi. Sem dizer palavra alguma, a deixou. Passado alguns dias, deixou um bilhete à caixa postal de Eliza: '' A velocidade do encantamento obscurece a verdade dos fatos. Sinto muito. Por amá-la demais, devo deixá-la.'' Eliza, desentendedora da situação chorou. Entristeceu-se. Odiou seu amor como nunca odiara ninguém. Desejou vingança, morte, ruindades. No outro dia já não desejava mais nada. Apenas pular a areia movediça que parecia insistir em sugá-la. A areia do azar no amor. Esse que eu, você, Eliza e Miguel, certamente teve ou terá em alguma fase da vida. 
Essa é a história de Elisa e Miguel. A história de dois apaixonados que nos mostram que tudo tem seu tempo. Na maratona do coração, correr demais pode exaustar com precocidade. Caminhar vagarosamente, pode fazer com que percamos o primeiro lugar. Alguém poderia palpitar: dessa maratona prefiro nem participar. Pobre alma. Mal sabe ela que o prêmio dessa corrida é o que nutre a vontade de viver. Um prêmio chamado ''Felicidade''. Este mesmo prêmio que nem Miguel e nem Eliza ainda obtiveram. 

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