terça-feira, 8 de maio de 2012

                                                 Direito por lei
     
    
       Há algumas horas vi um vídeo interessante. Consistia em uma entrevista com o renomado filósofo brasileiro Luiz Felipe Pondé. Certamente, poucos concretizarão o adjetivo que usei para descrevê-lo, afinal, vivemos em uma sociedade intelectualmente precária. Mas foi justamente nesse papo informal de Pondé, que uma de suas maliciosas e inteligentes frases me despertou a vontade de raciocinar e escrever uma opinião à respeito. O filósofo afirmou termos ''mania de querer agradar a todos. Possuímos uma afetividade infantil condizente apenas com tal faixa etária...'' . Realmente. Quando paro pra observar o cotidiano em que me encontro, percebo múltiplas facetações representando algo não verdadeiro. Alguns diriam falsidade. Prefiro não usar o termo, ou talvez, apenas omiti-lo. Vendo o desenrolar mental da sociedade, percebo há muito que não somos mais donos de nossos narizes. Falsidade consiste em dissimular. E não mais dissimulamos. Agimos como falsos naturais. Somos falsos naturais. E tudo isso por conta do que disse Pondé : queremos agradar a tudo e a todos.     
       Quando somos educados em nossa infância, certamente somos para agregar valores sociais. Dentre esses valores, formadores da criança, encontramos busca pelo sucesso, apreço pelo belo, solidariedade com o próximo e respeito às regras pré-concebidas. Já nesses valores torna-se perceptível o quanto nossa criação influi no nosso desejo de agrado permanente. Quando nos eram exigidas notas altas, que simbolizam o sucesso infantil na sociedade, simplesmente nos eram exigidas. Perdoe a repetição de palavras. Mas foi isso o que todos ouviram quando tiraram notas baixas: exijo, exijo, exijo... E, para tirar um sorriso da cara do pai com a vinda do boletim no próximo bimestre, nos esforçávamos ao máximo. Veja, não nos vangloriávamos de nosso conhecimento, mas sim do dever cumprido perante o desejo dos pais. E isso advém da criação mal-formulada. Agregar o valor do sucesso com o regozijo de sentir-se bem apenas quando outro nos parabenizava, foi desastroso para a formação psíquica de indivíduo social. Quando perguntávamos como estávamos vestidos, se o perfume era de cheiro agradável, ou se o cabelo remetia a um penteado condizente com a imagem, simplesmente transferíamos nossas opiniões para o destinatário. E, erroneamente, recebíamos veementes opiniões a respeito de um simples vestido ou uma singela camisa. Veja como isso é inconcebível para uma formação ideal. Nos foi ensinado que devíamos ajudar o próximo lhe tirando um sorriso da face. Não! Isso é reprovável. Devemos tirar um sorriso de nosso rosto. Nós devemos nos sentir felizes por ajudar. Ficar na dependência da opinião alheia é um ato falho. Pondé afirmou que é aceitável para uma criança o fato de insegurança nos atos. Discordo. É de criança que recebemos o jeito que pensaremos no futuro. Se julgar admissível um pensar inseguro, logo na infância, certamente revelará um adulto dependente. Dependente do alheio. Não creio que devamos incitar nossas crianças a serem independentes em todos os atos. Afinal, somos taxados de exemplos a elas. Mas acho que liberdade de raciocínio e opinião é meio caminho andado. Certas atitudes talvez implantem na mentalidade da pessoa que, independentemente do que irão dizer, quem tem voz para gritar primeiro é ela mesma. Você mesmo deve se avaliar. Apenas você pode formular um raciocínio pessoal. E percebo que a sociedade carece de pensadores hoje justamente por conta de nossa criação. À medida que vamos sendo coordenados a esboçar nossos próprios sorrisos na face de outrem, despedimos do cérebro a importância de nossos próprios dentes. Essa mania de agradar, sinceramente, não me agrada. E justamente por isso que admiro tanto os excêntricos. Desde a era hippie, fervorosos anarquistas, ao cantor de rap sem papas na língua. Chega dessa ignorância medíocre de taxar o que é certo e errado, feio e belo. Somos seres pensantes. E, graças as forças superiores, seres que pensam de maneira diferente. Acatemos nossos próprios valores e nossas próprias ideias. Contanto que não fira a liberdade do próximo, que se dane se eu quero sair por aí vestido com uma blusa com estampas de mangas e uma saia escocesa dançando algo senegalês. O livre-arbítrio deve ser estimulado. De crianças a idosos : liberdade de expressão e pensamento, é um direito que nos cabe.  

2 comentários:

  1. meus parabéns pelo seu texto, eu também abordei, de forma mais literária essa coisa que nos tiram, de expressarmos, de sermos quem somos, isso é algo que nos tiram na infância e depois quando vamos para a faculdade, muitas pessoas não sabem lidar com essa coisa que eles mesmos pregam que é a liberdade de expressão... se quiser ler um dia, vou te passar os links :

    http://www.pequenosdeleites.com.br/2012/02/meu-carinhoso-desafeto-faculdade.html

    http://www.pequenosdeleites.com.br/2011/06/o-gosto-da-espontaneidade.html

    show de bola seu texto.

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  2. a maioria das pessoas gostam de serem controladas

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